PERCEBERAM ALGUMA COISA? ... ou andam a (mais uma vez) enganar-nos ?
- O INCONFIDENTE
- 23 de jun. de 2022
- 4 min de leitura
A reportagem é esta. Aconteceu no dia 21 de Junho e juntou Ministra da Agricultura e o Ministro do Ambiente.
Ajudem-me lá a perceber o que saiu daqui. Esta comissão de que os ministros fazem parte destina-se a prevenir, monitorizar e acompanhar a situação de seca. Prevenir é coisa que não faz, nem nunca fez, daí termos chegado à situação que se vive. É que, se por um lado a falta de água é culpa da falta de chuva, por outro, há muito que o cenário hidrológico que se vive é de conhecimento das autoridades, há medidas que se sabe têm que ser implementadas e as perdas continuam a acontecer sem que nada, mas mesma nada tenha sido feito. Vamos tapar os buracos por onde se some a água com dinheiro do PRR.
Em Março de 2019 já o plano intermunicipal de adaptação às alterações climáticas do Algarve considerava o seguinte em termos de perdas de água na rede:


Monitorizar é coisa que não se faz na sua plenitude, porque se ao nível das barragens ainda se vai sabendo das disponibilidades hídricas, o mesmo não acontece ao nível das águas subterrâneas que são aquelas a quem todos recorrem quando começa a faltar nas barragens. E são aquelas a quem todos recorrem ILEGALMENTE, sem que as autoridades façam o que seja para evitar este assalto ao recurso publico água. E ainda a propósito das águas subterrâneas, o mesmo plano intermunicipal referida e alertava para o seguinte…já em 2019:

Acompanhar é outro dos objectivos. E aqui nada temos a dizer. Acompanhar é ter uma noção do que se passa a cada momento, sendo que ao nível da água a coisa muda com muito velocidade de semana para semana. Acompanhar é preciso, mas também é preciso tomar medidas em função desse acompanhamento. E estas almas que se apresentaram nesta conferência de imprensa, é coisa que não querem fazer. Decidir em função da informação que neste momento está disponível.
O que estes dois vieram fazer foi, i) desculpar-se; ii) dizer que muito já foi feito; iii) dizer que muito será feito no futuro. É o destino dos que não decidem com antecedência. Que têm os dados e não decidem, para não afligir clientelas, para manter todos contentes menos aqueles que não têm capacidade reivindicativa.
Em cima do vazio que foi esta conferência de imprensa, o Ministro do Ambiente anunciou que vai ser feita uma campanha de sensibilização para alertar para os consumos de água, ou para os excessos. Ora, o Sr. Ministro, apesar de ser novo no cargo não deve ignorar que as maiores perdas de água estão na agricultura. Não estão no consumo doméstico. Basta ver o quadro que se segue para percebermos que o consumo doméstico tem permanecido estável, ao passo que o consumo para a agricultura tem subido continuadamente e continuará a subir. Juntem agricultura e campos de golfe e façam a comparação com o abastecimento público e fica bem visível quem é quem em matéria de consumos.
Mas também ao nível do abastecimento público que, embora represente uma fracção pequena quando comprado, por exemplo, com os campos de golfe, ainda assim representa perdas significativas. Num cenário de seca extrema em mais de 60% do território nacional, toda a gota conta. As redes municipais de abastecimento de águas estão, de um modo geral, velhas e esburacadas e esta é daquelas empreitadas que ninguém quer levar a cabo, mesmo sendo do mais estrutural que possamos pensar. Não é foguetório, suja tudo, esburaca tudo, põe as pessoas contra as Câmaras Municipais e com um bocadinho de jeito dura uma legislatura e lá se vai a reeleição. É preferível anunciar uma nova marina, uma nova ponte, uma dessalinizadora, etc…etc…Dá mais votos!
Como se dizia antes, a um maior consumo juntam-se maiores perdas. A agricultura é o maior consumidor, mas também aquele que acumula maiores perdas de água.
Este quadro é bastante elucidativo, do passado, do presente e do futuro do consumo de água no Algarve.

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